Novembro, 2020 - Edição 261

Como a Covid-19 está afetando o mercado editorial

Antes de mais nada, é preciso colocar as coisas nos seus devidos lugares: nem tudo é culpa da pandemia. Desde o ano passado, o Brasil já vinha enfrentando diversos problemas na área econômica. O atual governo conseguiu a façanha de delegar ao país um PIB de apenas 1,1%, em 2019, menor do que o da gestão Temer, em 2018 (1,3%). Os indicadores mostravam um quadro recessivo, com investimentos em queda e aprofundamento do desemprego, e especialistas do mercado financeiro apostavam em possíveis mudanças, esperando a aprovação de reformas estruturais que incentivassem a produção. Até que no dia 26 de fevereiro o Ministério da Saúde confirmou a existência do primeiro caso de Covid19 no Brasil, e em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde anunciou oficialmente a pandemia. De lá para cá, estamos vivendo o caos.

O impacto da doença em todos os setores da economia tem sido irrefutável. O mercado editorial, por exemplo, procura formas de se manter ativo, com a adoção de medidas que atenuem os efeitos do isolamento social. Falo especificamente das entidades responsáveis legais da categoria de editores de livros e publicações culturais que, respeitando as recomendações das esferas governamentais e da Organização Mundial da Saúde, adotaram o teletrabalho.

O Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), enquanto aguarda o retorno às atividades presenciais, permanece com a sua sede fechada, mas os serviços continuam funcionando normalmente e os pedidos das editoras podem ser feitos através do portal (https://snel.org. br). Os prazos das solicitações das associadas continuam os mesmos.

Os funcionários atuam no regime de home office, com acesso aos e-mails corporativos e sistemas. Da mesma forma, a Câmara Brasileira do Livro (CBL), que reúne editores, distribuidores e livreiros, colocou toda a sua equipe à disposição dos associados, e está preparada para o atendimento remoto de todas as solicitações. A CBL representa mais de 400 associados em todo o Brasil, e tem buscado estratégias para levar informações exclusivas para as empresas afiliadas, como a promoção de palestras on-line, com dicas e orientações jurídicas em período de isolamento.

Outra entidade impactada é a Liga Brasileira de Editoras (LIBRE), que representa 156 editoras independentes que trabalham cooperativamente pelo fortalecimento de seus negócios e do mercado editorial. A entidade realizou recentemente uma pesquisa com 75 editoras, sobre os efeitos da Covid-19 no mercado, apresentando alguns dados interessantes:

1) 88% das editoras devem adiar lançamentos este ano;
2) 37,4% anteciparam lançamentos no formato digital;
3) 39% editaram e-books (o que não estava em seus planejamentos);
4) 80,3% (associadas à entidade ou não) estão recebendo com atraso;
5) 20% viram a inadimplência atingir mais de 50% das receitas.

Os efeitos da pandemia já podem ser sentidos em alguns fatos concretos: uns negativos e outros positivos. A Bienal Internacional do Livro de SP, organizada pela CBL, prevista para o período de 30 de outubro a 8 de novembro deste ano, no Expo Center Norte, passou para 2022, para garantir a saúde e segurança dos visitantes e expositores.

Para amenizar o impacto da não realização do evento, a CBL anunciou a “I Bienal Virtual do Livro de SP”, que deve ocorrer em dezembro, com reuniões virtuais, contatos entre leitores, autores e profissionais do setor, e a possibilidade de realização de negócios. Por outro lado, a Associação Nacional de Livrarias (ANL), o SNEL, a CBL e algumas livrarias com fluxo de caixa ainda saudável se uniram na criação do projeto “Retomada das Livrarias”. Eles conseguiram arrecadar fundos e ajudar micro e pequenas livrarias com problemas financeiros em diversos estados brasileiros. Uma iniciativa louvável!

Enquanto isso, um projeto do Ministério da Economia pretende aumentar a taxação das obras literárias. Em plena pandemia do novo coronavírus, uma demonstração de total falta de respeito para com o setor editorial, tão importante para a cultura brasileira. Uma maldade sem tamanho!

Por Luiz Paulo Silva - jornalista.